sábado, 18 de agosto de 2007

Crescimento do consumo eléctrico no mínimo desde 2002

O ritmo de crescimento do consumo eléctrico atingiu em Julho, em termos acumulados desde o início do ano, o mínimo desde 2002, acentuando a tendência iniciada no ano passado. O clima ameno, o fecho e deslocalização de indústrias muito energéticas e a baixa no consumo das famílias e serviços, num contexto de crise económica, são as razões apontadas por especialistas para o que chamam "boa notícia". A manter-se este padrão, 2007 pode ser o primeiro ano em que o consumo energético sobe abaixo do Produto Interno Bruto (PIB), o que indica que Portugal está a produzir mais, gastando menos.

Segundo as estatísticas da Rede Eléctrica Nacional (REN), até Julho, o consumo acumulado desde Janeiro cresceu apenas 1,3%, face a igual período do ano passado, e é o valor mais baixo desde, pelo menos 2002 (não há registos anteriores no "site" da REN), ano em que, até ao mesmo mês, crescera 2,3%. Entre 2003 e 2005, o consumo de electricidade subiu entre 5% e 6%, ao ano, bem acima do PIB, fazendo de Portugal um dos países com menor eficiência energética.

Já em 2006, o crescimento do consumo abrandou (para 2,6%), apesar de, mesmo assim, continuar acima do PIB (que aumentou 1,3%). Este ano, a manter-se o padrão de aumento da procura abaixo dos 2% e a cumprirem-se as estimativas para o crescimento económico (1,8%), Portugal pode estar no arranque de um ciclo de ganhos de eficiência semelhante ao que se operou, por exemplo, a Irlanda nos anos 90.

Boa notícia por más razões

Mas por que baixa o consumo de electricidade? As causas apontadas agora são as mesmas que explicaram o abrandamento de 2006, sendo que a principal é fruto, sobretudo, da "sorte" o Inverno foi pouco rigoroso e o Verão não está a ser muito quente, reduzindo as necessidades de aquecimento e arrefecimento.

Mas outras explicações, sublinha Francisco Ferreira, derivam, infelizmente, de "más razões". "As pessoas estão com dificuldades económicas, o que as força a ter outra preocupação com a eficiência energética", afirma, fazendo o paralelo com aquilo que tem vindo a notar-se no consumo dos combustíveis rodoviários. "Os preços sobem, anda-se menos de carro", afirma. E nas empresas e serviços, afirma, há indicadores de que cada vez se fazem mais auditorias energéticas, no sentido de aliviar a factura.

José Penedos, presidente da REN, acrescenta outra "má razão" para explicar esta "boa notícia" o encerramento de "indústrias pesadas" e altamente energéticas. É o caso de sectores como o têxtil pesado, a cerâmica e, até o automóvel, que têm sido generosos em exemplos de encerramentos e deslocalizações. "Há alguma crise", sintetiza o gestor, que diz ser visível uma quebra nos consumos em alta e média tensão. Já na baixa tensão (domésticos e pequenas empresas e serviços) verifica-se "grande sensibilidade" ao preço, ajudando a "baixar o consumo".

As boas notícias do sector eléctrico, contudo, não ficam por aqui. Segundo a REN, as albufeiras hidroeléctricas estavam em Julho a 68% da sua capacidade, o máximo desde 2003 (quando atingiram 71%).

"O ano hidrológico tem sido acima da média", destaca José Penedos. Resultado a produção com base em grandes hídricas subiu 44% face ao ano passado, permitindo usar menos centrais térmicas (quebra de 19%).

Os ganhos, sublinha Francisco Ferreira, são diversos ao recorreremos menos a centrais a gás, carvão ou fuel e mais a hídricas e outras renováveis (a produção das eólicas, por exemplo, disparou 69% face ao ano passado), Portugal está a "baixar a factura energética" porque importa menos combustíveis fósseis e, além disso, está a emitir menos gases de efeito de estufa. "O Protocolo de Quioto [que limita as emissões] só arranca em 1 de Janeiro de 2008, mas era bom que este padrão se mantivesse", afirma.

No médio-prazo, todos estes factores, aliados à duplicação das exportações de energia, vão ter, ainda, mais um efeito benéfico (ver caixa), aliviando os aumentos da electricidade em 2008.


Exportações e produção aliviam tarifas em 2008

As exportações de electricidade para Espanha duplicaram até Julho face ao período homólogo de 2006. O disparo nas vendas, explica José Penedos, deve-se a alterações no sistema espanhol, obrigado a comprar parte da sua energia na bolsa portuguesa (OMIP, que vende agora para entrega futura), e ao facto de a REN procurar optimizar o balanço entre o que importa e exporta. Este estatuto de "comprador único" de energia - de que a REN gozou até finais de Junho, antes de entrar em vigor o Mercado Ibérico de Electricidade (Mibel) -, explica Penedos, permitiu à empresa gerir as trocas, com ganhos para o sistema nacional, despachando para Espanha energia barata (hídrica), mas também a mais cara (eólica). E o certo é que, se metade dos ganhos financeiros fica na REN, a outra é repartida pelos consumidores, por via das tarifas, devendo ter reflexos já em 2008. A ajudar a aliviar o preço estará também o facto de os custos de produção serem agora mais baixos (por se recorrer menos às centrais térmicas) e, ainda, haver menos consumo. Todos estes factores vão ser tidos em linha de conta pelo regulador do sector (ERSE), quando chegar a hora de fazer contas aos aumentos de 2008. E, segundo outras fontes do sector ouvidas pelo JN, não havendo imprevistos até ao fim do ano, tudo indica que os portugueses não vão sentir grandes sobressaltos no preço da electricidade. Este ano, as tarifas das famílias subiram 6% em Janeiro e vão cair 2,2% a partir de 1 de Setembro.

in Jornal de Notícias

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