sábado, 18 de agosto de 2007

Aquecimento termosolar começa a ganhar lugar ao sol

Um dos maiores entraves à disseminação do uso da energia solar para aquecimento de água no país - a falta de uma legislação específica - está sendo derrubado nas principais capitais brasileiras.

Em São Paulo, Porto Alegre e Belo Horizonte, leis que incentivam o uso do aquecimento termosolar foram aprovadas nos últimos meses e devem dar impulso para a instalação de sistemas nas três cidades. Na mesma direção, pesquisa realizada pelo Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), executado pela Eletrobrás, está mobilizando seis universidades de cinco estados para avaliar a situação real das instalações desses sistemas e quais são os outros obstáculos que a popularização do aquecimento solar enfrenta no Brasil.

Sob orientação técnica do Green Solar, centro de referência no tema localizado na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, em Belo Horizonte, a pesquisa, inédita, abrange 800 sistemas usados nos setores residencial, industrial e de serviços e envolve 49 pessoas ligadas às universidades e à Eletrobrás/Procel. Os levantamentos já estão sendo realizados em Belo Horizonte, Campinas (SP) e no Rio Janeiro. Em Belo Horizonte, que tem cerca de duas mil instalações e por isso considerada a capital solar do Brasil, a pesquisa começou com uma visita ao Hospital João XXIII, referência no tratamento de queimados. Neste hospital, há uma área exclusiva aos pacientes que utiliza aquecimento solar, por permitir o controle da temperatura para água.

"Vamos avaliar a economia obtida pelo uso dos aquecedores solares nas próprias obras", informa Elizabeth Pereira, coordenadora Green Solar. Quem usa os sistemas também será ouvido no levantamento. "Além das condições da instalação em si, pesquisaremos o nível de satisfação dos usuários finais", afirma Emerson Salvador, chefe da Divisão de Suporte Técnico de Conservação de Energia da Eletrobrás/Procel.

No Rio de Janeiro, onde as pesquisas estavam previstas para começar em outubro, os trabalhos foram antecipados: os pesquisadores da Uerj já terminaram a pesquisa de campo, iniciadas em abril, em 23 revendas, cujo resultado foi enviado para análise estatística pela equipe da PUC-MG. As pesquisas nas 224 instalações (localizadas em academias e clubes, hotéis e motéis, residências e hospitais) já estão a pleno vapor, com previsão de término para fins de setembro.

A pesquisa, espera a professora Elizabeth Pereira, permitirá que se obtenha uma radiografia da área em todo o país. "A criação dessa base de dados e respectivo tratamento estatístico das informações levantadas permitirão identificar os pontos críticos, como treinamento e capacitação", afirma a especialista. Segundo ela, o Brasil teria condições de apresentar um mercado de aquecimento solar de energia tão forte quanto os países que mais investem em energia termosolar, como Alemanha, Israel e China. Para isso, porém, teria que aumentar a área total dos coletores, de cerca de três milhões de metros quadrados de hoje para quatro milhões de metros quadrados.

Rio sustentável - No Rio de Janeiro, projeto da vereadora Aspásia Camargo, do Partido Verde, também tenta atingir aquele que, para ela, é o inimigo público número um de uma cidade sustentável: o chuveiro elétrico. Segundo estudos, 40% da demanda atual de água quente poderia vir do aquecimento solar. Aspásia acredita que as leis municipais sancionadas em Belo Horizonte e São Paulo ajudam muito a aprovação do projeto no Rio. "O Brasil está acordando para a sua realidade. Seria um desperdício total não saber usar o que a natureza nos deu: energia solar na maior parte do território, o ano inteiro", afirma.

Para ela, o maior obstáculo que a energia termosolar enfrenta no Rio é a falta de conhecimento. "Ainda há muitas pessoas conservadoras que tem receio de abrir mão do chuveiro elétrico pela energia solar", avalia a vereadora. Para Aspásia, se na hora da construção já estiver prevista a utilização do sistema, a resistência será menor porque não haverá necessidade de uma reforma ou mudança drástica.

Aspásia já tem até a estratégia para difundir o uso do aquecimento termosolar quando a lei de sua autoria for aprovada pela Câmara de Vereadores. "Pretendemos começar pelos clubes, academias, empresas do setor de serviços e indústria. Com as mudanças climáticas em curso no mundo, a geração de energia torna-se um problema dramático, por isso, todo mundo tem simpatia por causas como a da energia solar", acredita. Para mostrar a importância da aprovação da lei, a vereadora articulou uma audiência pública na Câmara, da qual participaram Emerson Salvador e Ary Vaz Pinto Jr., do Centro de Pesquisas em Energia Elétrica (Cepel). "Essa é uma boa oportunidade para o Rio se equiparar a outras capitais em termos de uso de energia limpa e ainda faturar no mercado de carbono", afirma Aspásia.

De acordo com os dados do Procel e da Empresa de Pesquisa Energética (EPE),o uso de chuveiro elétrico numa casa com quatro pessoas, por exemplo, é responsável por 22% do total da conta de luz. O setor residencial responde por quase 25% do consumo total de energia elétrica no país e o aquecimento de água para banho é responsável por aproximadamente 6% de todo o consumo nacional de energia elétrica no total e, no horário de pico (entre 18h e 21h), por 20% da demanda residencial.

Aos poucos, leis que facilitam a adoção do aquecimento de água são adotadas Brasil afora, por exemplo, em São Paulo: Duas leis municipais já garantem a instalação de sistemas para a captação de energia solar nas novas edificações residenciais, comerciais e industriais, além das construções de iniciativa do município. As leis prevêem a instalação de aquecimento solar como apoio ao gás ou energia elétrica nos edifícios na cidade.

Porto Alegre: Lei municipal criou o Programa de Incentivo ao Uso de Aquecimento Solar. O objetivo é promover medidas necessárias ao fomento do uso e ao desenvolvimento tecnológico de sistemas de aproveitamento de energia solar.

Belo Horizonte: Foram aprovados dois projetos: um reduz o IPTU para aqueles que adotarem o sistema, uma das ações da política municipal de incentivo ao uso de formas alternativas de energia; outro obriga os empreendedores da construção civil a utilizarem a tubulação específica em prédios residenciais.

Campina Grande (PB), Varginha (MG) e Birigui (SP) também sancionaram leis que criam incentivos ao uso de aquecedores solares. Já Rio de Janeiro, Salvador e Curitiba têm projetos de leis nesse sentido tramitando em suas câmaras de vereadores.

in Portal Fator

Etiquetas:

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial